sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Nepal-Kathmandu


Cheguei a meio da tarde ao Aeroporto Internacional de Tribhuvan. Uma experiência fantástica, o avião não estava em muito bom estado mas o ambiente era descontraido. Fiz a viagem com um rapaz nepalês que conheci em Delhi, não sabia falar inglês nem lingua nenhuma que percebesse, a comunicação é feita de forma gestual.
As hospedeiras são umas verdadeiras malucas sempre a perguntar se queremos mais cerveja, acho que querem embebedar toda a gente do voo da Indian Airlines (segundo me disseram em Delhi uma das piores companhias para viajar mas sem dúvida a mais barata). Ao contrário dos restantes aviões que apanhei a cerveja aqui é de meio litro.
Depois de um atraso de duas horas os aviões fazem fila de espera para descolar da pista de Delhi. A turbulência é enorme mas lá vamos nós em direcção aos Himalaias.
Apesar de ainda não ter visto para entrar na India mesmo assim acabo por fazer o percurso que pretendia, Agra-Varanasi-Lumbini-Kathmandu, mas por ar, a vida é assim...
Quando o avião está para aterrar o deboche é total, tudo sem cinto de seguranca, bebidas e tudo o resto nos tabuleiros, telemóveis ligados, ninguém parecia interessado em interromper o que estava a fazer. Aterrei com uma lata de 500ml no ar para não entornar tudo no corredor, ninguém aparece para recolher as coisas. Não sabia se o avião estava para se despenhar, se ainda estávamos no ar ou já na pista, a turbulência era assustadoramente excitante e o cenário brutal, com montanhas de ambos os lados. As hospedeiras, vestidas a rigor, só se riam enquanto se tentavam equilibrar. As habituais regras básicas de segurança nestas situações nem por isso... mas tudo corre conforme planeado.
Já com o visto na mão apanho um táxi em direcção a Thamel, dizem-me que a tarifa do aeroporto é fixa 500 rupias nepalesas (5 euros) mas consigo 0 táxi por metade do preço. A confusão na rua é enorme, gente por todo o lado. Não tenho tempo para prestar atenção a nada para não me distrair da conversa com o taxista que parecia ir contra tudo e todos enquanto me tentava convencer com os seus esquemas.
Alguns minutos depois chego a Thamel, zona de bares, restaurantes, hóteis e todo o tipo de comércio. Alugo um quarto na zona norte, num sitio bem calmo com um jardim e terraços magnificos no topo do edifício com vista para as montanhas e cidade. Apesar de estar em Thamel esta zona é bastante tranquila uma vez que está numa das extremidades desta área. Mais tarde estou a pensar alugar um quarto em Freak Street, zona mitica bem no coração da cidade antiga, junto a Durbar Square. Era ali que tudo se passava nos anos 60, mas esses dias já lá vão e Freak Street, actualmente com pouca animação, deu lugar a Thamel.
Na rua a confusão é enorme e o trânsito caótico, esta é sem duvida a cidade mais "roots" onde já estive, o lixo está por toda a parte, não há contentores. Quando chego vejo num jornal que a recolha já não é feita há 18 dias. A situação começa agora a voltar ao normal e de vez em quando passa um camião para tratar do lixo, são as criancas que trabalham no meio da sujidade enquanto um homem de idade lhes dá ordens. A electricidade é cortada 16 horas por dia em dois periodos diferentes. Actualmente os cortes são maiores uma vez que o país está a atravessar uma difícil crise energética. Os níveis das barragens estão muito abaixo do normal, para tentar resolver a situação o "governo" está a pensar importar energia da India, mas o principal problema é mesmo a manutenção da rede eléctrica (constantemente afectada pelas monções) que parece não existir.
Este sitio é maravilhoso, tenho conhecido muita gente (uma das vantagens de viajar sozinho), até agora só pessoas maravilhosamente simples. A comunicação não tem sido fácil mas há entendimento. Adoro as miudas nepalesas, para dizer a verdade estou fascinado com tudo. A ansiedade inicial vai dando lugar a coisas muito boas, sou suspeito... mas nunca é de mais frisar as raparigas são mesmo lindas.
Apesar de ainda ser inverno a temperatura está bastante agradável. Em Thamel há todo o tipo de comércio e animais na rua.
Mas nem tudo corre bem, chego a Kathmandu apenas com a roupa que tenho vestida. Apesar de muito insistir no aeroporto de Heathrow para me enviarem a mochila para Delhi, os senhores da British Airways acabam por deixá-la em Londres e chego ao Nepal sem parte das minhas coisas, nada de valor ficou para trás.
A vida aqui é assustadoramente barata, mas em Kathmandu tudo está feito para sugar o dinheiro a conta gotas. Além do mais os esquemas nunca param, esta gente não dorme, mas nada que um sorriso na cara e olhos bem abertos não resolvam, caso contrário é sempre a aumentar a conta. Se há sitio onde é preciso conferir sempre tudo mais de uma vez é aqui, ou então o pouco pode transformar-se em muito pouco de cada vez. É incrível as contas nunca batem certo à primeira, por vezes nem mesmo à segunda, mas no final chegamos a acordo.
Quando acabo de jantar recebo a minha conta, a da minha "namorada" e de mais duas pessoas que desconheço. No fim tudo se resolve e aceito as desculpas, tentar não custa e a culpa é de quem cai...Depois de pagar recebo o troco, confiro e faltam 100 rupias. Sorry sir...e lá me devolvem o dinheiro que falta.
A viajem só hoje começou...há 3 dias que não durmo um minuto mas não me sinto nada cansado, é dificil desligar... No quarto a luz da vela faz-me companhia e com a música da rua a embalar finalmente vou fechando os olhos, amanhã é outro dia...












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No meu segundo dia em Kathmandu aproveito para ir a Durbar Square, é um sitio magnifico situado junto a Freak Street bem no coração da Old Town. Sou dos poucos turistas a andar nas ruas, de vez em quando alguém tenta vender-me qualquer coisa, mas na verdade isso acontece muito poucas vezes, quase ninguém me chateia a cabeça o que me surpreende bastante. É possível caminhar pela Old Town, em Durbar ou até mesmo em Thamel (o que e incrível) sem ninguém me abordar, acho que em Marrocos me chatearam muito mais do que aqui. Quando chego ao centro de Durbar, aparece-me o primeiro tourist Baba, "I am a Baba, a Holy Man" diz ele, pois pois digo eu... sem lhe prestar atenção continuo a filmar, quando se apercebe que não lhe dou dinheiro vai-se embora, 1 minuto depois faço zoom na camara e consigo as imagens dele sem lhe pagar um tostão. Foi lindo, sentado ao longe o homem santo saca de um enorme monte de notas e começa a contar o dinheiro que faz com os turistas, filmei tudo. Vai ser difícil encontrar verdadeiros Babas e Sadhus e em Durbar não é certamente.
Durante a tarde aproveito para visitar alguns templos budistas, está a decorrer um festival na cidade há gente a tocar por todo o lado, aproveito para continuar a filmar enquanto dentro do templo vejo crianças tibetanas a cantar e a tocar.











Vou dentro de dias para Chitwan um parque natural situado no Terai, estou a pensar ficar por lá 3 dias para ver os rinocerontes, tigres e tudo o resto, daí parto para Pokhara junto a alguns dos picos mais altos dos Himalaias, só depois regresso a Kathmandu ainda há muito para ver no Vale, este sítio é genial para filmar.
Estou a pensar ficar 30 dias no Nepal, depois o destino é Bangkok de onde quero apanhar um avião para Angkor, no Cambodja. Espero ficar na Tailândia apenas o tempo suficiente para comprar os bilhetes de avião e conseguir o visto para o Vietname.